quarta-feira, 16 de setembro de 2009

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..........Para esta, para qualquer outra carta, não faz muita diferença, nem é nada relevante, sequer, saber a causa que se fez a ferida, o buraco, o tamanho do tombo, qual foi o estrago e se conseguiu ser cicatriz. E pouco menos importa se suportamos andar com toda a carga que colocaram em nossas costas, toda mala e bagagem que sequer nos pertencem e que nos fazem abdicar do que realmente é nosso, deixando para depois nossas próprias feridas para curar as alheias.
.........Para aqui, nada importa, pois só é para constar que em algum momento da vida fui obrigada a me olhar e constar que não era nada daquilo que pensava, e muito menos do que os outros julgam pensar. Mas incomoda-me o facto de saber estar longe de ser aquilo que verdadeiramente esperava de mim fazendo aumentar ainda mais aquele maldito buraco. É excruciante, a tristeza não passa e parece não diminuir em nada com o tempo; na verdade acho que apenas torna tudo límpido em mais um impasse, onde os rins não conseguem filtrar mais tanto ressentimento, tanta mágoa e veneno transformando tudo em mais uma insônia, em mais uma moinha.
.........Talvez o medo de estar eternamente errada e de não estar no caminho certo ou por não fazer o que os outros esperam, mesmo montando o pro biótipo que tanto desejam. Mas a covardia de não fazer o que preciso tem me deixado angustiada e pela primeira vez estou com medo. Sinto a aceleração passar por todo o meu corpo, o fluxo de sangue quente causa-me uma náusea terrível, o maldito buraco começa a latejar, exalando o pus do restante. E assim eu tento respirar sem pulmões, esperando que o torpor me livre de toda essa situação para conseguir me levantar em uma parte só, ao invés de duas. Esperando tudo isso passar...
.........Mas não passa, e a solução é a lâmina fria que rasga a pele liberando o líquido viscoso. A diferença nesse tipo de dor é saber exatamente o lugar de onde ela emana, tudo sai, tornando limpo o lugar, e essa sensação me faz esquecer mesmo que por poucos segundos. Ao contrário da ferida interna que gangrena sem e saber exatamente onde está... Não limpa, não é possível drenar o pus, o sangue, a dor latejante que não cessa, não sai nunca. Já a dor externa, acaba logo, só deixando cicatrizes disfarçáveis aos olhos que não importam em saber a origem.
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..........Sempre soube qual foi a primeira marca, mas isso não modifica. Apenas torna tudo francamente aterrador, se transformando apenas incômodo, uma espécie de zumbido, um comichão, e quando qualquer coisa se aproxima demais da ferida, e me chega mesmo a tocar, e depois recua, claro, não falo e parece que pouco interessa a alguém, porque nunca ninguém olhou para trás quando disse não ser nada, nunca ninguém insistiu em saber por tudo isso eu só guardo.Mas só que mesmo depois do pequeno cutucão, o vazio antigo queima só um bocadinho, só mais uma pequena picada para me lembrar que há-de ser sempre assim - eu hei-de andar pelo mesmo caminho dos outros mas num passo e de um jeito diferente.
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Tudo isso tem me puxado novamente para baixo, de modo inconstante... mas com guinadas estranhas e calmarias arrastadas, inundando minha cabeça.
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Não voltei à superfície.

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ઇઉ
....."Um dia nossos entes queridos se vão. Quando menos esperamos e sem nenhum aviso, Deus tira de nós o que mais amamos.
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.....Em nosso peito apenas a dor de um punhal que a cada "meus pêsames" parece pesar.
Nossos pensamentos divulgam para cada gota de sangue em nosso corpo a culpa de nunca ter dito: "te amo"; "preciso de você", "estou sempre aqui", "me preocupo", e como se não bastasse vem à frase mais forte "a culpa foi minha".
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.....Nossos sonhos caem por terra, nossa independência parece perder a importância.
.....E a resposta para essa dor? O tempo e uma certeza:
.....Quando amamos transmitimos em pequenos atos e gestos, e as palavras não importam mais; quando precisamos de alguém, sentimos sua presença, e as palavras não têm mais sentido; quando nos sentimos sós e abandonados, surge uma palavra ou um gesto e descobrimos que nunca estaremos sós.
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.....E a culpa? A culpa é da vida que tem inicio, meio e fim. A nossa culpa está apenas em amar tanto e sentir tanto perder alguém.
.....Mas o tempo é remédio e nele conquistamos o consolo, com ele pensamos nos bons momentos. E com um pouco mais de tempo, transformamos nossos entes queridos em eternos companheiros.
.....Nossos sonhos ganham aliados, nossa independência ganha acompanhantes, nossa vida conquista anjos.
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.....E no fim apenas a saudade e uma certeza: Não importa onde estejam, estarão sempre conosco."
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(Créditos à minha amada Mãe.)
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ઇઉ
Talvez eu não volte,
a tristeza tomou conta daqui.
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